O Velho Queco

No campo da escultura, Maguetas conheceu um senhor que andava sempre com um cão vira-lata muito dócil. Era o Sr. Francisco Bassi, um italiano conhecido como Queco. No seu pais de origem ele havia frequentado a Academia de Belas Artes de Milão. Estava para se formar em artes plásticas quando resolveu vir para o Brasil, fugindo da guerra na Itália.

Aparentemente era um andarilho mas morava com um sobrinho e sua família. O Queco era só, solteiro e com muita desilusão da vida. Falava um italiano bonito, clássico, expressado com facilidade. Maguetas, então com 11 anos, gosta de passar pela porta com escada onde Queco e seu cão estavam sempre sentados. Gostava de aprender as filosofias do velhinho, numa fala agradável de ouvir. Com ele, Maguetas aprendeu alguma teoria sobre escultura; o cão ficava quietinho, parecendo entender tudo sobre o assunto. Os trabalhos do velho Queco em argila eram bem elaborados e traziam o conhecimento de uma das mais importantes escolas do mundo.

Meu pai pegava uma carona na carrocinha de pão que voltava para casa e descia na esquina do velho Empório São Benedito pertencente à família Abbud para conversar com o Queco. Ficava ali horas a fio. O velho gostava de ver o que o menino fazia já eram figuras maiores, rostos de Jesus da virgem Maria etc.

O cemitério da cidade era a melhor galeria de arte que eles tinham. Normalmente o velho Queco e o garoto iam até lá para admirar as peças de mármore importadas. O menino ficava boquiaberto pelo que os homens faziam no cinzel. Então o velho aproveitava para ensinar sobre as réplicas lá existentes, como a Pieta, de Michelangelo Buonarroti. Então, o pobre velho, desiludido com a vida, punha-se em prantos. O menino procurava animá-lo mas o ancião sabia que não havia mercado para a sua arte. As formas clássicas de ornamentos estavam mudando rapidamente para linhas retas chamadas modernas, desrespeitando na arquitetura todas as formas de fachadas com capitéis e ornatos. São Paulo crescia velozmente e não havia tempo para tanta arte clássica. Demorado era o projeto, demorada a execução e tudo saia muito caro por ser mão de obra de artistas.

Apesar de gostar da companhia do menino, o velho Queco o desaconselhava quanto à profissão que ele dizia ser sem futuro. Ele falava que seria melhor o garoto seguir outro caminho e deixar a arte como passatempo, do contrário passaria por maus bocados. Então aconteceu uma tragédia, seu único parente, o sobrinho com quem ele morava, foi brutalmente assassinado. A desgraça causou ainda mais tristeza ao velhinho, que morreu pouco tempo depois. Seu cão, que tinha o nome de Bello, seguiu o funeral e deitou-se perto do túmulo, negando-se a beber água e comer qualquer coisa que lhe trouxessem. Dizem que o fiel cão morreu assim, perto do túmulo do velho Queco.

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