Londrina, Quarta-feira, 6 de outubro de 2004
Folha de Londrina – Caderno Folha 2 – Visuais
Ana Paula Nascimento
Reportagem Local
Monet. Por mais que ele não goste muito da comparação, não dá para deixar de associar o trabalho do pintor paulista Washington Maguetas com o pintor impressionista francês Claude Monet (1840-1926), ou com o seu amigo e professor, Edouard Manet (1832-1883), precursor do impressionismo. Em passagem por Londrina, onde está participando da organização da sua biografia e da revista didática sobre a sua técnica, Maguetas se rendeu à beleza de Londrina. Uma exposição com 50 quadros em homenagem a Londrina deverá ser realizada até o final do ano. E motivos de inspiração não faltam. Até um pequeno lago com ninféias – as famosas flores pintadas por Monet em “A Ponte Japonesa”, um dos seus quadros mais famosos – Maguetas descobriu próximo ao Residencial Quinta da Boa Vista.
Mas seu impressionismo é “tropical”, como ele mesmo diz. As matizes, os tons, as cores e luz são brasileiras, “não são filtradas como no impressionismo francês”, explica o nosso impressionista. Aos 62 anos, Maguetas já acumula 50 anos dedicados à pintura e cerca de 11 mil quadros produzidos. Há também mais de 40 mil reproduções espalhadas no Brasil e no exterior.
Maguetas prefere classificar seu trabalho como “Impressionismo Tropical”
Nascido em Taquaritinga, interior de São Paulo, Maguetas é de origem humilde. Seu pai era zelador da igreja matriz da cidade e, depois da escola, era lá que ia conversar com o pai e também admirar os afrescos do local. Um dia, na época do Natal, um presépio despertou a atenção do garoto. “Fiquei encantado com o que eu vi. Disse ao meu pai que eu iria fazer um presépio e fui atrás do barro necessário”, lembra o artista. Ele fez o que disse e com apenas oito anos já dava sinais do seu talento.
Pouco tempo depois, ao visitar uma exposição de quadros na sua cidade, do pintor paulista Marcovecchio, se encantou pela pintura. “Fiquei impressionado com as cores e passava lá todos os dias. Perguntava o que precisava para pintar e foi assim que tudo começou…”, disse o pintor que naquela época engraxava sapatos para comprar material de pintura. Autodidata, Maguetas contou que começou pintando retratos. O impressionismo surgiu meio por acaso, quando ele nem conhecia a tendência ou seus pintores famosos. Na tentativa de pintar o interior de uma floresta, e incomodado com os mosquitos, Maguetas deixou pela metade a obra, que seria o início da sua carreira artística como impressionista, alertado por um amigo que conhecia um pouco mais sobre arte.
“Nos meus quadros, resgato uma época de romantismo, do final do século 19 e início do 20, que todos querem relembrar. Também uso cenas de hoje, mas transporto para outra época, pois acredito que ainda há espaço para apreciar o romantismo. Não sou contra arte contemporânea, mas acho que ela está extrapolando um pouco”, comentou o artista, catalogado desde 1960 no Salão Paulista de Belas Artes, juntamente com Aldemir Martins, Volpi, Manabu Mabe, Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, entre outros.
Maguetas também está antenado com as questões da atualidade. Além de realizar workshops sobre arte, também participa de organizações não governamentais. Uma de suas últimas contribuições foi a criação de um hino pela preservação da Serra do Jaboticabal, da sua cidade natal, onde mora atualmente. O seu lado compositor também registrou Londrina, que conheceu pela primeira vez em 1959, na música “Amanhecer no Paraná”. Além disso, está organizando exposição de quadros em Belo Horizonte e Portugal.
De uma mancha, a cada pincelada,
simplesmente vão surgindo novas e belas formas.
E impressiona ver a sua maneira de pintar. De uma mancha, a cada pincelada, simplesmente vão surgindo novas e belas formas. Fica difícil visualizar os contornos, mas a sutileza é tanta e os toques são tão precisos que em pouco tempo o espectador se vê submerso em uma imagem nostálgica que parece ter surgido em um passe de mágica.
que parece ter surgido em um passe de mágica.
Sobre o impressionismo, Maguetas nos conta que sua origem é brasileira. Em 1850, o pintor Manet era passageiro de um navio ancorado na Baía da Guanabara, que ficou extasiado pela intensidade da luz e do reflexo das casas, das montanhas e das florestas nas águas calmas da baía. Sofrendo possivelmente de malária e proibido de desembarcar, Manet permaneceu a bordo do navio por quase uma semana. O Rio de Janeiro deixou uma impressão profunda na sua memória, e décadas depois ele relatou aos amigos que a vista da Baía da Guanabara, captada por seus olhos febris, inspirou-lhe uma nova intuição de arte que mais tarde seria apelidada de “impressionismo” – que ainda encanta e emociona.
Veja aqui, passo-a-passo, Maguetas criando um quadro com esta técnica.