Quem Sabe

Comparecem precisas ao encanto diário do artista.

O encontro é pontual. Sentado em seu quintal por elas espera, num misto de paixão e ansiedade, enquanto reflete sobre o mistério desse voo diário.

“Não há mar por perto”, pensa, “elas estão fora de sua rota, por que se desviaram?” Um voo precisa, da vida natural, sobre um espaço de seu habitat, por que?

Será reverência? Será uma amizade antiga que visita, cheia de saudades?
Será a lembrança de um amor do passado, a imagem das buscas humanas refletidas no voo das aves que também imprimem desvios a seu caminho?
Será um aceno do filho ausente a expressar-se por este voo independente?
Será a presença Divina a solicitar do artista um novo quadro?
Será Gerda que retorna?
Serão anjos da guarda derramando benções piedosas a fim de que as dores se amenizem?
Serão despedidas de todas as dores da vida?
Talvez contá-los, uma a uma, seja um recurso que auxilie a materializar este éter diário. Esta contagem, minuciosamente, faz o artista.
De seu quintal certifica-se que, todas as tardes, estão todas presentes.
Uma contagem infinita que vai até onde alcança o número das possibilidades dos desejos.

Gláucia Telles Sales
Jornalista, teatróloga, escritora e poetisa

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