Sempre tentei tocar algum instrumento e nunca consegui. Quando menino queria ser pianista mas fui desencorajado pelo professor do Conservatório. Por ser de família pobre nunca ia ter dinheiro para comprar um piano.
Os anos passaram, e eu, antes de ter um câncer nas cordas vocais, tinha bia afinação para cantar e alcançava tons muito altos pela minha estrutura física e 60 e poucos quilos.
Quando meu filho Walter morreu em 1994 eu sentia a vontade de me comunicar com ele, e vivia muito só, pintava pouco, e bebia com muita frequência.
Havia ganho um teclado pequeno mas o suficiente para fazer uma melodia.
Sem conhecer partituras, ouvia o som de uma nota e buscava outra que desse para forma a palavra saudade. Gravava essas notas e seguia para as outras, quando finalizei a melodia pedi para um músico amigo fazer o arranjo. E assim nasceu minha primeira composição.
Estava no atelier quando toquei a fita “Wa – Só Saudades”, olhei para o céu, eram umas seis horas da tarde e vi algumas aves passando a mais ou menos 100 metros de altura, eram gaivotas, a princípio pensei que seriam garças mas tinham as pontas das asas pretas.
Deduzi que meu filho Walter estava mandando um sinal de que ouvia minha música. Contei essa história para a esposa do rapaz que fez o arranjo e emocionada ela escreveu duas crônicas sobre as gaivotas mensageiras.