Lembranças da Casa do Alto da Serra

Em anos posteriores, Maguetas voltou algumas vezes ao local para rever a casa que sua mãe detalhava em suas histórias. Saudosa casinha em que haviam morado seu pai, sua mãe e suas sete irmãs, todas mais velhas do que ele.

A edificação possuía uma varanda com balaústres de madeira pintados de azul colonial, junto com portas e janelas da mesma cor. Aliás, toda a fazenda, inclusive a sede seguia essas cores, com telhados bem vermelhos de cerâmica. As várias colónias, onde habitavam os trabalhadores, tinham casas com cisternas para esgoto. água encanada e luz elétrica, um avanço para a época.

Voltando a falar da casinha perto da varanda havia uma primavera que subia até ao telhado. Tinha também um poste com um sino que o pai de Maguetas tocava todas as manhas para chamar os trabalhadores.

Para encurtar o caminho rumo à cidade, as pessoas desciam a serra por uma trilha, bem no meio da floresta que encobria a encosta íngreme. Havia uma grande variedade de árvores, inclusive madeira de lei: e muitos animais silvestres. Era comum avistar bugios, jaguatiricas, tamanduás e muitas aves como tucanos e jacus.

Havia também a possibilidade de se fazer proezas descendo com receio por abismos chamados grotões, onde eram encontradas belas cascatas. Na verdade havia uma estrada carroçável, mas era bem mais longe e o povo preferia enfrentar os perigos da trilha para ganhar tempo, já diminuído pela grande quantidade de afazeres diários. A serra era apenas uma pequena parte da jornada de oito quilômetros até à cidade.

Maguetas lembra que passava com sua mãe pelo único caminho existente, por dentro da sede da fazenda e guarda na memória aquelas construções diferentes e que ainda hoje permanecem em bom estado. Tanto é assim que a casa grande que fica no fim de um gramado ladeado por palmeiras foi até cenário de telenovela. Essas construções de linhas bem diferentes teriam um papel importante para o gosto de Maguetas pelas coisas da Europa. Ela (a mãe) sempre parava para ver as crianças que corriam pelos jardins sempre acompanhadas por moças de roupas e aventais rendados. As babás passeavam com aquelas crianças, bem loiras, de olhos claros e com roupas bem diferentes. Era comum ver uma jovem mãe de vestido longo passear naquele gramado em meio aos pavões com seus rabos coloridos. As primaveras floriam e cobriam parte do telhado da escola onde suas irmãs frequentavam as aulas. As cercas da fazenda, todas em madeira pintadas de branco separavam a alameda que chegava até a cidade, coisa de 3 quilómetros. Essa alameda era cercada de flamboyants e palmeiras intercaladas.

Quando Maguetas ainda era bem novo, com cinco ou seis anos de idade, seu pai sempre dizia que o garoto ainda seria muito famoso, talvez até conhecido internacionalmente. Ele afirmava que pequena casa da serra possui algum poder misterioso sobre as pessoas, não era uma casa comum.

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