A Epidemia

O ambiente dentro da sala estava desolador com muito choro e tristeza. O pequeno ficou um pouco por ali com sua mãe e depois saíram para respirar ar puro. Lá fora, os agentes de saúde estavam queimando toda a roupa de cama e colchoes de palha e crina(um capim especial para colchões usado pelas pessoas mais humildes). A fogueira era enorme.

A tia Ana e as crianças já apresentavam sintomas da doença foram todos encaminhados para o isolamento na Santa Casa da cidade. A noticia se espalhou rapidamente e foram detectados os transmissores numa represa a poucos metros. Ali estava o vetor, um mosquito responsável pela epidemia.

Ficaram todos sem um único fio de cabelo na cabeça, devido a febre alta. Os doentes ficavam como cadáveres, somente a pele cobrindo os ossos. Dava para se lembrar das vitimas nos campos de concentração da Europa, exibidos nos jornais, nas telas dos cinemas. Na casa de Maguetas havia dois quartos, e na porta de um deles haviam pendurado uma tabuleta de papel, com letras pretas bem grandes TIFO NÃO ENTRE. Era o primo mais velho, Orlando que havia recebido alta do hospital e veio para a casa do tio a fim de se restabelecer Não havia mais vagas no hospital.

Havia terror por todos os lados. Era o medo da Peste, que tinha matado milhões na Ásia e na Europa. A população passou a seguir orientações dos fiscais de higiene e saúde, os quais colocavam na porta de cada casa uma pequena bandeira amarela, indicando que o quintal estava sendo inspecionado para eliminação dos focos do mosquito transmissor da febre tifoide. O menino espiava assustado pela fresta da porta, e de vez em quando entrava no quarto para levar ao primo uma caneca d’água com o remédio. Fazia isso escondido da mãe, que talvez não entendesse que a transmissão só se fazia pelas picadas do mosquito contaminado. Cenas bonitas, como as da fazenda com suas babás passeando em um grande jardim, marcaram a infância de meu pai. As cenas bonitas, ele as coloca em sua telas, as cenas feias e tristes lembranças, prefere esquecer.

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